segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Vovó, continue dançando!

O nome dela é Maria da Penha. Maria da Penha Araújo. Na verdade era Botelho, mas seu marido a fez tirar o sobrenome do pai e seguir somente com o Araújo, nem se quer o Marques ela ganhou.
“Sinto saudade do meu sobrenome”, confessou ela em uma de nossas conversas.
“Pode deixar vovó, quando eu tiver um filho coloco seu sobrenome nele”, dizia eu enquanto colocava mais uma almofada em suas costas.
Fiz essa promessa quando tinha uns 08 anos e já teria me esquecido, se minha mãe não tivesse feito o favor de me lembrar.

Vovó não fazia doce, nem almoço de domingo e me contou somente duas, mas inesquecíveis, estórias durante toda minha infância, são elas: “Dona Baratinha” e “A moça que vendia banana”. Essa última não foi tirada de nenhum livro de contos infantis. Nasceu da profunda criatividade de Dona Penha, que se inspirava na Lurdinha, a moça que vendia banana e morava pra cima da minha casa. Lurdinha não ganhou, nem de longe, todo o dinheiro que a moça da estória conquistou, uma pena!

Que eu me lembre vovó passava alguns dias lá em casa. Meu pai a infernizava com mil e uma piadas de sogras.

“Ehh Dona Penha, o triste na vida é que sogra é igual esperança: A última que morre.”

Ela ria. Não sei se ela gostava ou ria para não mandá-lo para @#$%¨&*#$&*

Vovó sentia muito frio e dormia com muitas cobertas, cobria a cabeça e ninguém conseguia ver quem estava na cama. Ela roncava um pouco também, diga-se de passagem. Uma noite Rafael (meu irmão mais velho) invadiu o quarto de meus pais chorando. O menino morrendo de medo gritava: “Pai, me ajuda, pai, me ajuda!!!” “O que foi Rafael???” “Tem uma vaca no meu quarto!”

Há mais de 10 anos ela se arriscou em sair sozinha para rua. Ela conta que foi surpreendida por duas garotas que vinham na direção oposta e que passaram por ela feito um furacão, que a soprou direto pro chão. Ela não quis abrir os olhos, disse que quando cai mantém os olhos fechados para não ver o estrago. As meninas entraram em desespero pelos quase 10 minutos que vovó se manteve imóvel. Tenho certeza que no fundo ela fez de propósito para dar um castigo mais que merecido para as duas.

Vovó frequenta o Clube da Alegria, definido sabiamente por um tio meu como Escleroteca, desde que me entendo por gente. Acho que ela é a mais velha do clube. Conta com orgulho que no ano de 2009 (se não me falha memória) foi eleita a Rainha da Primavera!

O médico sempre disse: “Não pare de dançar Dona Penha, esse é maior remédio para se manter viva”

Outro lugar que vovó sempre falou muito é da PL, http://www.perfectliberty.org.br/. Segundo ela, foi lá que se tornou uma pessoa melhor.
Passou a frequentar mais os clubes e as igrejas depois que vovô morreu. Ela me disse que começou a viver de verdade quando ele se foi. Nasceu pro mundo aos 61 anos. Logo, é mais que justo que ela chegue aos 100!

Ela sempre me disse que eu era a neta preferida, embora eu saiba que ela fala isso pra todas! Dona Penha tem um coração grande o suficiente para abrigar toda a grande família.
Ela reza toda a noite pelos filhos, netos e bisnetos. Reza a porta da casa de todos nós. Portanto tios e primos, não se preocupem! Pra alguns ela pede pra Nossa Senhora Aparecida, pra outros ela pede pra São Judas Tadeu, eu to nesse grupo aí das causas impossíveis!
Reza a lenda que nenhum problema dessa vida é mais forte que a novena da vovó. Adoro pedir sua benção e gosto mais ainda quando ela diz: “Deus te abençoe minha filha e te de boa sorte”

Ela me ensinou uma frase que uso até hoje: “Não faça à Alice Lemos, nem a ninguém que lhe pertence”. Era o nome da sua mãe. “Se alguém um dia te fizer mal, diga essa frase em pensamento”

Vovó não é tímida, adora ser o centro das atenções e receber uma salva de palmas depois do discurso. Ela se levanta com dificuldade e fala nem que seja uma ou duas frases quando é solicitada. Sempre pedindo saúde e felicidade para os seus.

O tempo te trouxe algumas limitações. Precisa de ajuda para a maioria do afazeres cotidianos. Sua altura também se modificou, foi encolhendo, encolhendo, ficando mais baixinha que muitos bisnetos!

Dia 18 de setembro Dona Penha comemora 92 primaveras! Sem doenças, só os problemas inerentes à velhice, que afirmo, ela tem tirado de letra. Poucas pessoas continuam a sorrir, quando o corpo pede pra parar.

 Embora, algumas vezes vovó se sinta debilitada e outra já tenha me dito que cansou da vida, a vida não cansou dela! Muito menos nós!

10 filhos, 29 netos e 13 bisnetos. Pelos meus cálculos é isso aí! Ela é uma vovó fofa e o nó mais forte que une essa família tão grande!

Nesses 92 anos da Vovó Penha, quero desejar que ela continue dançando! Por muitos e muitos e muitos anos!

2 comentários:

  1. Olha... sei que vc não me conhece, mas eu conheço muito bem a Vó Penha.. sou a mãe do Robson, primeiro filho do Claudio ( irmão do César).. sempre adorei essa fofinha, e fiquei muito feliz ao ver as fotos recentes que postaram no FB, e me alegro muito pelo seu blog tão criativo, simples e sincero. Você vai longe. Parabéns! muitos beijos pra vocês todos, um especial n tia Leny!
    Betty Carvalho Ramirez

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  2. Ai, Vivi! Tô emocionada! É tanta lembrança boa, né? E o mais feliz disso tudo é que ela continua firme e forte, esbanjando alegria e nos ensinando tantas coisas. Dê um beijo eeeeeeeeenooooormeeee a ela por mim (olha a responsa!), já que não poderei estar presente nesta festa merecidíssima.
    Aproveito para dizer que sempre gostei do nome Alice e, graças ao seu texto, eu entendi porquê!
    Um beijo grande.

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