A mais antiga lembrança que eu tenho do meu pai, é dele estacionando sua Brasília verde-limão na garagem.
Tinha o costume de subir no sofá para olhar da janela da sala se era ele mesmo que estava chegando. A janela era alta, na verdade eu era pequena demais, na verdade continuei pequena. Com meus pés apoiados na madeira do sofá, eu abria um enorme sorriso e gritava: "Papai chegou!!!”
Ele vinha para almoçar, todos nós já havíamos almoçado, ele ainda não. Ele se sentava e tentava assistir ao jornal, enquanto comia. Tentava, porque o fato deu escorregar em suas pernas durante todo o almoço o impedia de se concentrar em qualquer coisa, ainda mais em notícias. Ele não demorava muito, precisava voltar ao trabalho.
Tinha o costume de subir no sofá para olhar da janela da sala se era ele mesmo que estava chegando. A janela era alta, na verdade eu era pequena demais, na verdade continuei pequena. Com meus pés apoiados na madeira do sofá, eu abria um enorme sorriso e gritava: "Papai chegou!!!”
Ele vinha para almoçar, todos nós já havíamos almoçado, ele ainda não. Ele se sentava e tentava assistir ao jornal, enquanto comia. Tentava, porque o fato deu escorregar em suas pernas durante todo o almoço o impedia de se concentrar em qualquer coisa, ainda mais em notícias. Ele não demorava muito, precisava voltar ao trabalho.
Ele ia embora e eu ficava atenta ao horário da "Escolinha do Professor Raimundo", pois gravava todos os programas, a fim de assistir em sua companhia depois do Jornal Nacional. Ele ria de todas as piadas. Eu ria da risada dele. O sono me acometia rapidamente, fazia esforço pra ficar de olhos abertos, mas era em vão. Meus poucos anos me davam muito sono e eu acabava por adormecer no sofá.
Fazia xixi e escova os dentes como uma sonâmbula. Não me preocupava, ele estava ali, me segurando. No amanhecer eu era surpreendida com muitos beijos estalados com cheiro de café. Muitas das vezes eu já estava acordada e ficava na cama escutando seus assobios, que formavam alguma música do Fagner. Acho que devia ser aquela: "Quem dera ser um peixe...”
Não me atrevia a levantar da cama, queria que ele viesse me acordar. Seus beijos me davam força, bom humor, felicidade.
“Piriquita, budeguinhaaaa... ta na hora de acordar!”
Os apelidos não eram nada convencionais.
Não me atrevia a levantar da cama, queria que ele viesse me acordar. Seus beijos me davam força, bom humor, felicidade.
“Piriquita, budeguinhaaaa... ta na hora de acordar!”
Os apelidos não eram nada convencionais.
Demorava um ano para eu tomar aquele café com leite fervendo que ele me dava, acho que é por isso que até hoje não gosto de nada muito quente.
Meu pai pra mim era um homem forte, que enfrentava tudo e todos para me salvar. Como na história da onça que ele deve ter contado umas 3.500 vezes por pressão dos meus pedidos.
“Saímos para fazer um piquenique: sua mãe, você, Rafael, João Felipe e eu. Quando estava tudo pronto para começarmos a comer, apareceu uma onça!
Tive que jogar todas as comidas para ela. Os pães, os bolos, as laranjas, os danoninhos... Quando acabou a comida eu joguei sua mãe, depois o Rafael, depois o João Felipe, depois você e por último joguei uma pedra! Lutei com a onça até que consegui matá-la, com uma faca a rasguei na barriga. Lá dentro estavam vocês, sentados na pedra, de barriga cheia! Tinham comigo todo o lanche e eu fiquei sem nada. ”
No fim da história eu estava chorando: “Não papai, eu guardei um danoninho pra você!”
Ele ria de mim e me abraçava para me acalmar. Ele sempre gostou de fazer isso comigo, me provocava até me fazer ir pro quarto chorando. Depois ficava no quarto dele deitado na cama me chamando: “Vivianneeeee, Vivianneeee”. Ele sabia que eu não resistia muito tempo, logo eu aparecia enxugando as últimas lágrimas e deitava ao seu lado.
No fim da história eu estava chorando: “Não papai, eu guardei um danoninho pra você!”
Ele ria de mim e me abraçava para me acalmar. Ele sempre gostou de fazer isso comigo, me provocava até me fazer ir pro quarto chorando. Depois ficava no quarto dele deitado na cama me chamando: “Vivianneeeee, Vivianneeee”. Ele sabia que eu não resistia muito tempo, logo eu aparecia enxugando as últimas lágrimas e deitava ao seu lado.
Sempre tive ciúme dele. A única mulher que eu aceitava ao seu lado era minha mãe, isso porque ela sempre o deixou livre quando eu estava por perto. Ficava bufando quando a minha prima Bia (afilhada dele) sentava em seu colo. Eu chorava, empurrava e ela insistia em ficar ali, no colo que era meu!!!
Nas noites de verão ele chegava do trabalho e ia direto pra piscina. Eu já havia tomado banho, mas ia correndo colocar o biquíni e entrava junto com ele. Não perdia a oportunidade de nadar em suas costas.
Não moro com ele desde os meus 12 anos. O destino quis assim. A vida nem sempre é tão justa quanto a gente gostaria.
Mas mesmo assim, ele nunca deixou de ser o homem da minha vida, nem o herói que esquartejava onças para me salvar.
Sei que muitas vezes ele quis estar ao meu lado, me colocar no colo e ficar acordado comigo até de madrugada. Como ele fazia quando eu tinha 08 anos e a malvada da insônia insistia em me visitar.
Somos completamente diferentes nos atos e na forma de pensar. A vida se encarregou de nos dar personalidades opostas. Mas não tem quem jure que os opostos se atraem?
Nesse dia dos pais que se aproxima não vou almoçar com ele, nem lhe entregar um presente, muito menos deitar ao seu lado para conversar, até esperar que ele ronque. Mas quero que ele saiba: independente do dia dos pais, das mães ou das crianças, todos os dias que eu acordo eu me lembro dele e do profundo amor que eu sinto pelo melhor pai que a vida podia me dar!